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Ray Sasaki fala trompete
O trabalho de administrar uma jovem editora foi tão desgastante que concluí há alguns meses que não poderia mais dedicar tempo a escrever Revisão da estrela: que eu estava sobrecarregado e responsável para com meus autores eram razões suficientes para desistir. Não mencionei meu crescente ceticismo de que fazia muita diferença, de uma forma ou de outra, escrever ou não.
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Bobo eu! Vou pegar meus pixels mais uma vez em qualquer base irregular que eu puder. Meu lapso de resenha me permitiu concluir que leitores ou nenhum, me sinto compelido a escrever críticas para refletir e expandir o impacto dos artistas que me comovem – o que eles pensam e fazem. Quem pode crescer sem discussão? Como posso desfrutar da arte sem o tempo que a escrita me leva a considerá-la profundamente, na proporção da generosidade e magnitude do trabalho que traz a arte até nós?
Este fim de semana passado ouvi e conversei com o brilhante músico e pensador musical, Ray Sasaki que é, entre muitas outras coisas, trompetista dos Tone Road Ramblers. Ray falou sobre o fato de tocar seu instrumento desde os oito anos de idade. Com que simplicidade ele disse ao seu público que tocar sua trompa é falar. Em essência, ele é bilíngue e não está claro que o inglês seja o idioma mais fluente.
Isso me fez parar por ser tão simples, primário e universalmente aplicável. Muitas vezes queremos nos livrar do trabalho de aceitar presentes de arte que temos que montar com caixas de ferramentas limitadas à linguagem verbal. “Artista: Apenas dizer mim o que você quer dizer! Seja seu próprio selo de museu!”
Quando Sasaki fala música, importa se eu entendo isso com palavras? Claro que sim: é o que a maioria de nós sabe. Arte em todas as formas é enviada para um mundo verbal. É no espaço entre a linguagem musical ou visual ou espacial (linguagem literária também!) e nossas tentativas de entendê-la que o significado, a descoberta e o amor acontecem. Esse é o espaço onde a crítica nos ajuda a apreciar, questionar e discutir os sons de Sasaki, onde podemos agradecê-lo direta ou indiretamente. Ao escrever, posso levar outros à sua música e ao mundo de ideias para o qual ele nos convida. Essas são as razões para escrever – e ler – críticas. Ou “resenhas” como são chamadas as peças críticas de um único assunto. (veja The Tone Road Ramblers: Sempre Algumas Surpresas)
Democracia das Resenhas de Livros
Ser um editor agora me deixou ainda mais consciente da diluição da revisão. Na arte visual, há muito se vê o declínio das resenhas de arte nos jornais locais e a brevidade das que aparecem. As resenhas de livros, por outro lado, parecem estar passando por um renascimento, graças às resenhas de clientes no site comercial da Amazon e especialmente às resenhas de leitores na rede de mídia social Goodreads.
As resenhas de livros são centrais para o mundo literário. Eles nos informam sobre títulos meritórios e nos dão a chance de discuti-los em nossas mentes com interlocutores informados. Tem sido triste ver as resenhas de livros saírem das seções de fim de semana dos jornais da cidade, ou encolher sob limites mesquinhos de palavras onde elas sobrevivem. Há menos do que costumava haver. Então pensei até hoje em resenhas populares on-line.
Uma resenha de livro é um ensaio assinado que descreve a obra, levanta e discorre sobre seus temas e conecta a obra e o escritor ao mundo mais amplo. O gênero de resenha que floresce nos sites simplesmente resume o enredo ou argumento de um trabalho e o classifica de acordo com o sentimento de antipatia do leitor – cinco estrelas ou uma, polegares para cima ou para baixo. Esta não é uma resenha de livro. É um relatório de livro ou, se suficientemente sucinto, uma cópia publicitária.
Goodreads serve o leitor ativo e entusiasmado como um clube do livro amplo e democrático. Os leitores têm a satisfação de manter listas de livros que servem como diários de leitura. Eles são motivados a ler mais por estarem no meio virtual de leitores que estão sempre “falando” sobre livros e comparando notas. Os leitores desfrutam da companhia de comunidades sobrepostas com gostos e entusiasmos semelhantes, o que, por sua vez, pode levá-los a ampliar seus gostos por autores e gêneros. Acho que o Goodreads deve ser uma vantagem para a leitura de adultos em geral, um clube com reuniões em qualquer horário necessário e sem engorda irresistível.
É uma pena que as postagens no Goodreads sejam chamadas de “resenhas”, já que quase nunca vão além do resumo da trama e uma classificação baseada em um fator pessoal e excêntrico. Um livro recebe “1” porque o leitor não gosta de livros com muitos personagens. Outro recebe um “5” porque o revisor acha bonito (sem motivo ilustrado) a escrita que a maioria dos críticos de livros deploraria como pesada. Em suma, análise, especificidade, comparação são difíceis de encontrar neste mundo. A autoridade baseada em outros que não o gosto raramente está presente.
As resenhas do Goodreads refletem o mundo das resenhas de livros “legítimas” de uma maneira desanimadora, sendo que alguns livros “quentes” são revisados centenas de vezes enquanto os livros menos divulgados (e continuam assim por toda a atenção dispensada aos melhores -vendedores) passam relativamente despercebidos. A conexão entre crítica e marketing é tão embaraçosa quanto as roupas novas do imperador. Enquanto o mundo editorial está repleto de títulos, o orçamento de marketing ou as vendas anteriores dos livros de um autor são o que atraem revisores populares e profissionais. Ninguém quer ser visto fazendo uma ligação com um título “sem importância”: a maioria dos revisores é muito conservadora e é improvável que introduza um novo título por conta própria. Também é difícil recusar um livro gratuito recebido através de uma rede bem oleada.
Perguntei a um apresentador da NPR que certa vez falou em Columbus por que todos os muitos programas da rede revisavam o mesmo um ou dois livros de cada vez, quando sempre há tantos para escolher. Ele evitou a pergunta com uma risada.
A crítica é sobre julgar? Avaliação? Polegares para cima ou para baixo? Acredite em mim? Você vai amar?
Viva para os leitores! Viva por compartilhar opiniões, por ler juntos, por trocar livros, por manter au courant. Mas não vamos confundir Goodreads e relatórios de livros da Amazon e publicações de opinião com críticas – aquela conversa mais profunda e expansiva que nos leva mais longe dentro de um livro e nas espirais crescentes de espaço, tempo e ideia em torno dele.
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